segunda-feira, setembro 30, 2002
o castigo não tem limite
pobre baudelaire
O espelho
Um homem terrível entra e se olha no cristal.
"-- Por que você se olha no espelho, já que você não pode ver a si mesmo sem desprazer?"
O homem terrível me responde: "-- Senhor, com base nos imortais princípios de 89, todos os homens são iguais em direitos; logo eu tenho o direito de me olhar, com prazer ou desprazer, isso é da conta apenas da minha consciência."
Em nome do bom senso, eu tinha sem dúvida razão; mas, do ponto de vista da lei, ele não estava errado.
pobre baudelaire
O espelho
Um homem terrível entra e se olha no cristal.
"-- Por que você se olha no espelho, já que você não pode ver a si mesmo sem desprazer?"
O homem terrível me responde: "-- Senhor, com base nos imortais princípios de 89, todos os homens são iguais em direitos; logo eu tenho o direito de me olhar, com prazer ou desprazer, isso é da conta apenas da minha consciência."
Em nome do bom senso, eu tinha sem dúvida razão; mas, do ponto de vista da lei, ele não estava errado.
como o spleen não passa
continuo castigando o baudelaire
As massas
Não é dado a qualquer um tomar um banho de multidão: gozar da plebe é uma arte; e aquele solitário pode tomar, às custas do gênero humano, um porre de vitalidade, em quem uma fada insuflou desde o berço o gosto pelo travestismo e pela máscara, o ódio do domicílio e a paixão pela viagem.
Multidão, solidão: termos iguais e conversíveis pelo poeta ativo e fecundo. Quem não sabe povoar sua solidão sabe menos ainda ser sozinho numa multidão atarefada.
O poeta goza deste incomparável privilégio, poder, à vontade, ser ele mesmo e os outros. Como essas almas errantes que procuram um corpo, ele entra, quando no quer, no personagem de alguém. Só para ele, tudo está vago; e se certos lugares parecem fechados para ele, são os que, aos seus olhos, não valem a pena ser visitados.
O caminhante solitário e pensativo toma uma singular bebedeira dessa comunhão universal. Aquele que desposa facilmente a massa conhece os prazeres febris, dos quais serão eternamente privados o egoísta, fechado como um cofre, e o preguiçoso, internado como um molusco. Ele adota como se fossem suas todas as profissões, todas as alegrias e todas as misérias que a circunstância lhe apresenta.
Isso a que os homens chamam amor é bem pequeno, bem restrito e bem frágil, comparado a essa inefável orgia, a essa santa prostituição da alma a que se entrega com tudo, poesia e caridade, ao imprevisto que se mostra, ao desconhecido que passa.
É bom aprender de vez em quando com os alegres desse mundo, nem que seja para humilhar por um instante seu estúpido orgulho, que existem alegrias superiores à sua, mais vastas e mais refinadas. Os fundadores de colônias, os pastores de gente, os padres missionários exilados no fim do mundo, conhecem, sem dúvida, algo desse misterioso tipo de embriaguez; e, no seio da vasta família onde seu gênio é feito, eles devem rir de vez em quando daqueles que têm pena de suas fortunas assim perdidas e pelas suas vidas tão castas.
continuo castigando o baudelaire
As massas
Não é dado a qualquer um tomar um banho de multidão: gozar da plebe é uma arte; e aquele solitário pode tomar, às custas do gênero humano, um porre de vitalidade, em quem uma fada insuflou desde o berço o gosto pelo travestismo e pela máscara, o ódio do domicílio e a paixão pela viagem.
Multidão, solidão: termos iguais e conversíveis pelo poeta ativo e fecundo. Quem não sabe povoar sua solidão sabe menos ainda ser sozinho numa multidão atarefada.
O poeta goza deste incomparável privilégio, poder, à vontade, ser ele mesmo e os outros. Como essas almas errantes que procuram um corpo, ele entra, quando no quer, no personagem de alguém. Só para ele, tudo está vago; e se certos lugares parecem fechados para ele, são os que, aos seus olhos, não valem a pena ser visitados.
O caminhante solitário e pensativo toma uma singular bebedeira dessa comunhão universal. Aquele que desposa facilmente a massa conhece os prazeres febris, dos quais serão eternamente privados o egoísta, fechado como um cofre, e o preguiçoso, internado como um molusco. Ele adota como se fossem suas todas as profissões, todas as alegrias e todas as misérias que a circunstância lhe apresenta.
Isso a que os homens chamam amor é bem pequeno, bem restrito e bem frágil, comparado a essa inefável orgia, a essa santa prostituição da alma a que se entrega com tudo, poesia e caridade, ao imprevisto que se mostra, ao desconhecido que passa.
É bom aprender de vez em quando com os alegres desse mundo, nem que seja para humilhar por um instante seu estúpido orgulho, que existem alegrias superiores à sua, mais vastas e mais refinadas. Os fundadores de colônias, os pastores de gente, os padres missionários exilados no fim do mundo, conhecem, sem dúvida, algo desse misterioso tipo de embriaguez; e, no seio da vasta família onde seu gênio é feito, eles devem rir de vez em quando daqueles que têm pena de suas fortunas assim perdidas e pelas suas vidas tão castas.
sábado, setembro 28, 2002
já que estou de plantão
cometo outro baudelaire
Qualquer lugar fora deste mundo
Esta vida é um hospital, e cada doente é possuído pelo desejo de mudar de cama. Aquele ali gostaria de sofrer encarando um fogão, e aquele lá crê que guerreia ao lado da janela.
Me parece que eu ficaria sempre bem lá onde não estou, e essa questão da mudança é uma que eu discuto sem parar com minha alma.
"Diga, minha alma, pobre alma resfriada, o que você acha de morar em Lisboa? Lá deve ser quente, e você se esparramaria como um lagarto. Essa cidade fica perto da água, dizem que foi construída em mármore, e que as pessoas de lá odeiam tanto o vegetal que arrancam todas as árvores. Eis aí uma paisagem a teu gosto; uma paisagem feita de luz e mineral e líquido para refleti-los!"
Minha alma não responde.
"Já que você ama tanto o repouso, com o espetáculo do movimento, quer ir morar na Holanda, essa terra beatificante? Talvez você se divirta nesse lugar do qual já vou tantas vezes a imagem nos museus. Que você acha de Rotterdam, você que ama as florestas de mastros e as embarcações amarradas ao pé das casas?"
Minha alma continua muda.
"A Batávia talvez te apeteça? Lá nós encontraremos o espírito da Europa casado com a beleza tropical."
Nenhuma palavra. Será que minha alma está morta?
"Será que você chegou a esse ponto de burrice em que você não encontra prazer a não ser no teu mal? Se é assim, fujamos para o país onde estão as analogias da Morte. --Eu não tenho nada a fazer, pobre alma! Nós faremos nossas malas para Bornéu. Vamos mais longe ainda, à ponta extrema do Báltico; ainda mais longe da vida, se for possível, vamos nos instalar no pólo. Lá o sol não toca a terra a não ser obliquamente, e as lentas alternâncias da luz e da noite suprirão a variedade e aumentarão a monotonia, esa metade do nada. Lá poderemos tomar longos banhos de trevas, ainda que, para nos divertir, as auroras boreais nos enviem de tempos em tempos seus montes cor-de-rosa, como reflexos de fogos de artifício do Inferno!"
Enfim, minha alma explode, e sabiamente me grita: "Não importa onde! Não importa onde! desde que seja fora deste mundo!"
cometo outro baudelaire
Qualquer lugar fora deste mundo
Esta vida é um hospital, e cada doente é possuído pelo desejo de mudar de cama. Aquele ali gostaria de sofrer encarando um fogão, e aquele lá crê que guerreia ao lado da janela.
Me parece que eu ficaria sempre bem lá onde não estou, e essa questão da mudança é uma que eu discuto sem parar com minha alma.
"Diga, minha alma, pobre alma resfriada, o que você acha de morar em Lisboa? Lá deve ser quente, e você se esparramaria como um lagarto. Essa cidade fica perto da água, dizem que foi construída em mármore, e que as pessoas de lá odeiam tanto o vegetal que arrancam todas as árvores. Eis aí uma paisagem a teu gosto; uma paisagem feita de luz e mineral e líquido para refleti-los!"
Minha alma não responde.
"Já que você ama tanto o repouso, com o espetáculo do movimento, quer ir morar na Holanda, essa terra beatificante? Talvez você se divirta nesse lugar do qual já vou tantas vezes a imagem nos museus. Que você acha de Rotterdam, você que ama as florestas de mastros e as embarcações amarradas ao pé das casas?"
Minha alma continua muda.
"A Batávia talvez te apeteça? Lá nós encontraremos o espírito da Europa casado com a beleza tropical."
Nenhuma palavra. Será que minha alma está morta?
"Será que você chegou a esse ponto de burrice em que você não encontra prazer a não ser no teu mal? Se é assim, fujamos para o país onde estão as analogias da Morte. --Eu não tenho nada a fazer, pobre alma! Nós faremos nossas malas para Bornéu. Vamos mais longe ainda, à ponta extrema do Báltico; ainda mais longe da vida, se for possível, vamos nos instalar no pólo. Lá o sol não toca a terra a não ser obliquamente, e as lentas alternâncias da luz e da noite suprirão a variedade e aumentarão a monotonia, esa metade do nada. Lá poderemos tomar longos banhos de trevas, ainda que, para nos divertir, as auroras boreais nos enviem de tempos em tempos seus montes cor-de-rosa, como reflexos de fogos de artifício do Inferno!"
Enfim, minha alma explode, e sabiamente me grita: "Não importa onde! Não importa onde! desde que seja fora deste mundo!"
que beleza
plantão
com rebelião
plantão
com rebelião
sexta-feira, setembro 27, 2002
quarta-feira, setembro 25, 2002
cometo outra
tradução do baudelaire
Os olhos dos pobres
Ah! você quer saber por que te odeio hoje. Será sem dúvida menos fácil para você compreender do que pra mim explicar; porque você é, creio eu, o mais belo exemplo de impermeabilidade feminina que se possa encontrar.
Passamos juntos um longo dia que me pareceu curto. Nos prometemos que todos os nossos pensamentos seriam comuns a um e ao outro, e que nossas duas almas de agora em diante não seriam mais do que uma; _um sonho que não tem nada de original, afinal, se não for sonhado por todos os homens e não realizado por nenhum.
À noite, um pouco cansada, você quis sentar em frente a um café novo que fazia esquina com uma rua nova, ainda cheio de entulho e já exibindo gloriosamente seus esplendores inadquiridos.
O café piscava. O gás lhe dava todo um ardor de começo e iluminava com todas suas forças os muros cegantes de brancura, as arestas dos espelhos que confundem, o ouro das juntas e das cornijas, as páginas de jogos meio solucionados bagunçados pelos cães encoleirados, as damas rindo do falcão empoleirado no seu pulso, as ninfas e as deusas portando na cabeça frutas, patês e caças, as Hebes e os Ganimedes apresentando com braços estendidos a pequena ânfora com cremes ou o obelisco bicolor de sorvetes flambados; toda a história e toda a mitologia interrompidas a serviço da glutonice.
À tua direita, na calçada, estava plantado um bravo homem que vinha de uma quarentena de anos, o rosto cansado, a barba grisalha, levando pela mão um menino e carregando no outro braço um serzinho frágil demais para caminhar. Ele cumpria o ofiício de faxineiro e fazia com que seus filhos tomassem o ar da noite.
Todos aos trapos. Esses três rostos estavam extraordinariamente sérios e seus seis olhos contemplavam fixamente o café novo com uma admiração igual, mas de nuances diferentes pela idade.
Os olhos dos pais diziam: "Que lindo! que lindo! Diriam que todo o ouro do pobre mundo veio se exibir nesses muros." -- Os olhos do menino: "Que lindo! que lindo! mas essa é uma casa onde só podem entrar as pessoas que não são como nós." -- Quanto aos olhos do menor, eles estavam fascinados demais para exprimir outra coisa que não uma alegria estúpida e profunda.
Os cantores diziam que o prazer conquista a alma boa e amolece o coração. A canção tinha razão naquele dia, no que tocava a mim. Não só eu estava enternecido por aquela família de olhos, como me sentia um pouco envergonhado por nossos copos e nossas bebidas, maiores que a nossa sede. Dirigi meus olhares para os teus, querido amor, para que lessem meu pensamento; eu mergulhava nos teus olhos tão lindos e tão bizarramente doces, nos teus olhos verdes, habitados pelo Capricho e inspirados pela Lua, quando me dizes: "Essa gente me é insuportável, com os olhos abertos como cocheiras! Você não poderia pedir ao maître do café para tirá-los daqui?"
É tão difícil de entender, meu querido anjo, e o pensamento é tão incomunicável, mesmo entre pessoas que se amam!
tradução do baudelaire
Os olhos dos pobres
Ah! você quer saber por que te odeio hoje. Será sem dúvida menos fácil para você compreender do que pra mim explicar; porque você é, creio eu, o mais belo exemplo de impermeabilidade feminina que se possa encontrar.
Passamos juntos um longo dia que me pareceu curto. Nos prometemos que todos os nossos pensamentos seriam comuns a um e ao outro, e que nossas duas almas de agora em diante não seriam mais do que uma; _um sonho que não tem nada de original, afinal, se não for sonhado por todos os homens e não realizado por nenhum.
À noite, um pouco cansada, você quis sentar em frente a um café novo que fazia esquina com uma rua nova, ainda cheio de entulho e já exibindo gloriosamente seus esplendores inadquiridos.
O café piscava. O gás lhe dava todo um ardor de começo e iluminava com todas suas forças os muros cegantes de brancura, as arestas dos espelhos que confundem, o ouro das juntas e das cornijas, as páginas de jogos meio solucionados bagunçados pelos cães encoleirados, as damas rindo do falcão empoleirado no seu pulso, as ninfas e as deusas portando na cabeça frutas, patês e caças, as Hebes e os Ganimedes apresentando com braços estendidos a pequena ânfora com cremes ou o obelisco bicolor de sorvetes flambados; toda a história e toda a mitologia interrompidas a serviço da glutonice.
À tua direita, na calçada, estava plantado um bravo homem que vinha de uma quarentena de anos, o rosto cansado, a barba grisalha, levando pela mão um menino e carregando no outro braço um serzinho frágil demais para caminhar. Ele cumpria o ofiício de faxineiro e fazia com que seus filhos tomassem o ar da noite.
Todos aos trapos. Esses três rostos estavam extraordinariamente sérios e seus seis olhos contemplavam fixamente o café novo com uma admiração igual, mas de nuances diferentes pela idade.
Os olhos dos pais diziam: "Que lindo! que lindo! Diriam que todo o ouro do pobre mundo veio se exibir nesses muros." -- Os olhos do menino: "Que lindo! que lindo! mas essa é uma casa onde só podem entrar as pessoas que não são como nós." -- Quanto aos olhos do menor, eles estavam fascinados demais para exprimir outra coisa que não uma alegria estúpida e profunda.
Os cantores diziam que o prazer conquista a alma boa e amolece o coração. A canção tinha razão naquele dia, no que tocava a mim. Não só eu estava enternecido por aquela família de olhos, como me sentia um pouco envergonhado por nossos copos e nossas bebidas, maiores que a nossa sede. Dirigi meus olhares para os teus, querido amor, para que lessem meu pensamento; eu mergulhava nos teus olhos tão lindos e tão bizarramente doces, nos teus olhos verdes, habitados pelo Capricho e inspirados pela Lua, quando me dizes: "Essa gente me é insuportável, com os olhos abertos como cocheiras! Você não poderia pedir ao maître do café para tirá-los daqui?"
É tão difícil de entender, meu querido anjo, e o pensamento é tão incomunicável, mesmo entre pessoas que se amam!
terça-feira, setembro 24, 2002
arrisco traduzir este baudelaire
porque é um poema em prosa
pra quem quiser
aqui está o original
Fique bêbado!
É preciso estar sempre bêbado, isso é tudo; essa é a única questão. Para não sentir o horrível fardo do tempo que racha os ombros e puxa pro chão, é preciso ficar bêbado sem trégua.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à sua escolha, mas fique bêbado! E se, por acaso, nas escadas de um palácio, sobre a grama verde duma vala, na solidão morna do seu quarto, você despertar, a bebedeira já menor ou passada, pergunte ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio; a tudo que foge, a tudo que geme, a tudo que rola, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são. E o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio responderão "é hora de ficar bêbado!" Para não ser um dos escravos martirizados do tempo, fique bêbado, fique bêbado sem parar, de vinho, de poesia ou de virtude, à sua escolha.
porque é um poema em prosa
pra quem quiser
aqui está o original
Fique bêbado!
É preciso estar sempre bêbado, isso é tudo; essa é a única questão. Para não sentir o horrível fardo do tempo que racha os ombros e puxa pro chão, é preciso ficar bêbado sem trégua.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à sua escolha, mas fique bêbado! E se, por acaso, nas escadas de um palácio, sobre a grama verde duma vala, na solidão morna do seu quarto, você despertar, a bebedeira já menor ou passada, pergunte ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio; a tudo que foge, a tudo que geme, a tudo que rola, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são. E o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio responderão "é hora de ficar bêbado!" Para não ser um dos escravos martirizados do tempo, fique bêbado, fique bêbado sem parar, de vinho, de poesia ou de virtude, à sua escolha.
como me disse
meu dulcíssimo joão
"segunda-feira sempre foi uma merda
e tem semana que os dias
que a ela se seguem
são bosta pura"
pois é
pois é
pois é
meu dulcíssimo joão
"segunda-feira sempre foi uma merda
e tem semana que os dias
que a ela se seguem
são bosta pura"
pois é
pois é
pois é
segunda-feira, setembro 23, 2002
shakespeare no freud
"senhor, para dizer-nos isso era supéfluo
que algum fantasma deixasse a sepultura"
"senhor, para dizer-nos isso era supéfluo
que algum fantasma deixasse a sepultura"
passa logo
porcaria
porcaria
por que
não pode continuar
sendo bom?
não pode continuar
sendo bom?
as coisas continuam
presas na garganta
e eu não falo
não falo
não falo
presas na garganta
e eu não falo
não falo
não falo
da interpretação dos sonhos
do freud
"não havia motivo para eu dizer que as uvas estavam verdes ou maduras. elas pendiam demasiado alto sobre a minha cabeça."
do freud
"não havia motivo para eu dizer que as uvas estavam verdes ou maduras. elas pendiam demasiado alto sobre a minha cabeça."
tarik
pra variar
manda bem
Meus germes são segregalistas, então que fique como está, seus germes dai e meus germes daqui.
pra variar
manda bem
Meus germes são segregalistas, então que fique como está, seus germes dai e meus germes daqui.
o tempo frio e cinza
da segunda
enche o coração de spleen
da segunda
enche o coração de spleen
meu doce joão
me enche de alegria
com esta descrição
pra lá de generosa
Ela é moça de pele apreciada pelas marcas caprichadas de corantes que lhe decoram o corpo, e de quando em vez acrescenta mais um, como o último, segundo me disse, um baudelaire no braço esquerdo tirado do mon coeur mis à nu "sois toujours poëte même en prose"
Tem alma livre que circula pelas tormentas das almas ora serena, ora aflita. Mexer com as palavras é seu ofício, mas pensa em restringir o que precisa dizer porque considera que tudo cabe em exatas 17 sílabas.
Mandou dizer que numa fúria pueril debastou a vasta cabeleira e deixou lá um moicano feito uma taturana gigante desafiando olhares. Já traduziu umas obras por aí, e ali no seu até parece decifrou Anne Sexton em dois poemas, esculpindo palavras como quem talha a canivete sangrando os sulcos porque com Sexton tem que ser assim, e pra entender precisa ter o coração meio underground e a cuca em transe. Nunca vi Lavínia mas aprecio o imenso brilho que sua sua cabeça (agora) pelada tem e tenho por ela muito apreço.
me enche de alegria
com esta descrição
pra lá de generosa
Ela é moça de pele apreciada pelas marcas caprichadas de corantes que lhe decoram o corpo, e de quando em vez acrescenta mais um, como o último, segundo me disse, um baudelaire no braço esquerdo tirado do mon coeur mis à nu "sois toujours poëte même en prose"
Tem alma livre que circula pelas tormentas das almas ora serena, ora aflita. Mexer com as palavras é seu ofício, mas pensa em restringir o que precisa dizer porque considera que tudo cabe em exatas 17 sílabas.
Mandou dizer que numa fúria pueril debastou a vasta cabeleira e deixou lá um moicano feito uma taturana gigante desafiando olhares. Já traduziu umas obras por aí, e ali no seu até parece decifrou Anne Sexton em dois poemas, esculpindo palavras como quem talha a canivete sangrando os sulcos porque com Sexton tem que ser assim, e pra entender precisa ter o coração meio underground e a cuca em transe. Nunca vi Lavínia mas aprecio o imenso brilho que sua sua cabeça (agora) pelada tem e tenho por ela muito apreço.
muito macho
pouco homem
pouco homem
sexta-feira, setembro 20, 2002
aliás
a música chama
"nem ouro nem prata"
de Ruy Maurity e José Jorge
a música chama
"nem ouro nem prata"
de Ruy Maurity e José Jorge
minha doce katita
não só esclarece
como me manda
a letra toda
da música do oxóssi
Eu vi chover, eu vi relampear
Mas mesmo assim o céu estava azul
Samborê, pemba, folha de jurema bis
Oxóssi reina de norte a sul
Sou brasileira, faceira, mestiça mulata
Não tem ouro nem prata o samba que sangra o meu coração
Tua menina de cor
Pedaço de bom caminho
Entrei no teu passo
Malandra não sou
Com a tal conceição
Chega de tanto exaltar essa tal de saudade
Meu caboclo moreno, mulato, amuleto do nosso brasil
Olha meu preto bonito
Te quero prometo
Te gosto pra sempre
Do samba-canção ao primeiro apito
Do ano dois mil
Eu vi chover, eu vi relampear
Mas mesmo assim o céu estava azul
Samborê, pemba, folha de Jurema
Oxóssi reina de norte a sul
não só esclarece
como me manda
a letra toda
da música do oxóssi
Eu vi chover, eu vi relampear
Mas mesmo assim o céu estava azul
Samborê, pemba, folha de jurema bis
Oxóssi reina de norte a sul
Sou brasileira, faceira, mestiça mulata
Não tem ouro nem prata o samba que sangra o meu coração
Tua menina de cor
Pedaço de bom caminho
Entrei no teu passo
Malandra não sou
Com a tal conceição
Chega de tanto exaltar essa tal de saudade
Meu caboclo moreno, mulato, amuleto do nosso brasil
Olha meu preto bonito
Te quero prometo
Te gosto pra sempre
Do samba-canção ao primeiro apito
Do ano dois mil
Eu vi chover, eu vi relampear
Mas mesmo assim o céu estava azul
Samborê, pemba, folha de Jurema
Oxóssi reina de norte a sul
segunda-feira, setembro 16, 2002
saco
tô com
quebrante
tô com
quebrante
tem gente
que se acha
perfeita
e sai por aí
julgando
pondo a colher
em tudo
quanta cara de pau
hein, meu filho?
que se acha
perfeita
e sai por aí
julgando
pondo a colher
em tudo
quanta cara de pau
hein, meu filho?
eu sou uma mulher do século 19
da segunda metade do século 19
Baudelaire, Poe, Verlaine, Rimbaud
Laforgue, Corbière, Crabbe
esta é a minha turma
da segunda metade do século 19
Baudelaire, Poe, Verlaine, Rimbaud
Laforgue, Corbière, Crabbe
esta é a minha turma
alguem sabe de quem é esta música?
eu vi chover
eu vi relampear
mas mesmo assim
o céu estava azul
(...)
oxóssi reina
de norte a sul
eu vi chover
eu vi relampear
mas mesmo assim
o céu estava azul
(...)
oxóssi reina
de norte a sul
quarta-feira, setembro 11, 2002
domingo, setembro 08, 2002
maldição!
não basta fazer plantão
tem que ir atrás
dos pais de um bebê
assassinado!
grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
não basta fazer plantão
tem que ir atrás
dos pais de um bebê
assassinado!
grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
sábado, setembro 07, 2002
ai ai ai
carrapato
não tem pai
carrapato
não tem pai
manoel de barros no plantão
Lugar em que há decadência.
Em que as casas começam a morrer e são habitadas por morcegos.
Em que os capins lhes entram, aos homens, casas portas a dentro.
Em que os capins lhes subam pernas acima, seres a dentro.
Luares encontrarão só pedras mendigos cachorros.
Terrenos sitiados pelo abandono, apropriados à indigência.
Onde os homens terão a força da indigência.
E as ruínas darão frutos.
Lugar em que há decadência.
Em que as casas começam a morrer e são habitadas por morcegos.
Em que os capins lhes entram, aos homens, casas portas a dentro.
Em que os capins lhes subam pernas acima, seres a dentro.
Luares encontrarão só pedras mendigos cachorros.
Terrenos sitiados pelo abandono, apropriados à indigência.
Onde os homens terão a força da indigência.
E as ruínas darão frutos.
sexta-feira, setembro 06, 2002
um drummond para bm, ms e mg
A UM AUSENTE
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos da obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.
A UM AUSENTE
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos da obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.
terça-feira, setembro 03, 2002
manoel manoel manoel
Nuvens me cruzam de arribação.
Tenho uma dor de concha extraviada.
Uma dor de pedaços que não voltam.
Eu sou muitas pessoas destroçadas.
......................................................
......................................................
Diviso ao longe um ombro de barranco.
E encolhidos na areia uns jaburus.
Chego mais perto e estremeço de espírito.
Enxergo a aldeia dos Guanás.
Imbico numa lata enferrujada.
Um sabiá me aleluia.
Nuvens me cruzam de arribação.
Tenho uma dor de concha extraviada.
Uma dor de pedaços que não voltam.
Eu sou muitas pessoas destroçadas.
......................................................
......................................................
Diviso ao longe um ombro de barranco.
E encolhidos na areia uns jaburus.
Chego mais perto e estremeço de espírito.
Enxergo a aldeia dos Guanás.
Imbico numa lata enferrujada.
Um sabiá me aleluia.